"Estou interessado em criar formas que surpreendam as pessoas, que sejam ousadas", costumava dizer Ruy Ohtake. Com uma carreira de mais de seis décadas e cerca de 420 obras construídas – quase trezentas apenas em São Paulo –, Ohtake deixa um legado prolífico e inspirador à arquitetura brasileira.
Além de São Paulo, seus projetos estão espalhados por locais tão distantes como Brasília, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro, estados por onde projetou e construiu residências, equipamentos de transporte, sedes de instituições culturais, hotéis, bancos, arenas esportivas e torres corporativas. Em muitos destes é possível reconhecer uma resistência do arquiteto a se inclinar diante da linha reta, aquela que não oferece surpresas, e o desejo de emocionar com suas formas e cores.
"Cor é vida!", dizia com entusiasmo. Seus edifícios, em diversas escalas e programas, atestam isso: cores primárias vibrantes surpreendem, e às vezes chocam, os olhos daqueles mais afeitos à monocromia. Exemplos disso são os Redondinhos, conjunto habitacional na comunidade de Heliópolis, e a sede do Instituto Tomie Ohtake, para mencionar apenas alguns.
Ele frequentemente falava sobre o microsegundo que leva para nossa mente absorver uma linha reta ou curva: com a linha reta, ele dizia, não há surpresa – podemos facilmente prever onde ela levará. Mas com a curva, nossa percepção (e coração) é envolvida – vai virar para lá, para cá... para onde nos levará? — Paul Clemence sobre Ruy Ohtake
Clemence, fotógrafo de arquitetura nascido nos EUA e criado no Brasil, compartilhou conosco mais uma série de fotografias, desta vez, explorando o peso das cores e formas nos edifícios de Ohtake. A obra de Ruy, comenta o fotógrafo, é uma multiplicidade desses microsegundos, sempre nos conduzindo por uma estimulante jornada arquitetônica.